A Bruxa – 22/11/2008
O que me mata
É seu olhar de gárgula
Tenso e silencioso
Me petrifica sem dizer nada
Você está sempre me fitando
Você e a gárgulas me julgando
Eu em baixo, olhando
Sentindo olhares me queimando
Como se não bastasse a flechada,
Me destruindo, já petrificada,
Das suas bocas saem poucas palavras
Depois delas não devo dizer mais nada
É como um julgamento medieval
São poucos os presentes no tribunal
Do advogado não há sinal
O veredicto é dado antes do argumento inicial
Você é a razão, a consciência e a maturidade
A sua língua me mostra a verdade
Os seus olhos são a única claridade
Para mim raramente há piedade
Não há defesa ou explicação
Com muita súplica, talvez o perdão
Agora me diga, Ó Senhora da Razão
Devo me ajoelhar e olhar para o chão?
Esse sua amor às vezes ma lembra
Os tempos medievais e suas sentenças
Onde o que importava não era a benevolência
Mas sim a crença e a descrença
Você se mostra chateada
Me manipula com chantagens baratas
Quais são as minhas armas?
Como lutar contra uma juíza amada?
Esse nosso amor de inquisição
Onde meu papel é concordar com paixão
Entender e aceitar sua imposição
Me tornar boa meninas sem contestação
Posso afirmar: decoração, estou tentando
Sobre minha condição ando pensando
Como uma burguesa posso me vestir
Mas em meus olhos a bruxa não deixará de existir
O que você quer é meu bom comportamento
Rezando todo o dia, me adaptando ao convento
Mas eu sei que o que você nunca esquece
É da minha natureza pagã, que não padece
Eu devo esquecer meus caldeirões
E a prender as suas corretas lições?
Ou você deveria abrir os olho e enxergar
Que seu mundo não é meu lugar?