segunda-feira, 6 de junho de 2011

Ainda

Um suspirar já basta
O imaginar seus lábios esboçando um sorriso
Quem sabe querendo dizer: "ainda"
"Ainda vive", "Ainda queima"
A incerteza abre as portas do "ainda", do possível
nem que seja pelo tempo apenas do seu sorriso
esse talvez querer faz o que restou em brasa trepidar
Minha mente trepida ao imaginar o quase "sim, outra vez"
Que dure um café
Que dure um luar
Quem sabe apenas um olhar
O "ainda" alimenta brasa já dada como extinta
E faz aquecer,
Mesmo que só por um tempo, mesmo que só por brincar

Morbidez

Eis porque gasto papel e tinta,
Porque insisto em expressar toda a morbidez
escura e esacatológica
densa e lentamnete procriada
nos porões imundos do meu pensamento.
Esse fungo se procria e domina
neurônio por neurônio
lembrança por lembrança
e bloqueia toda a produtividade.
Inerente a mim como ser humano,
a desprezada e mal falada morbidez,
se apresenta, se expõe
agora ela caminha pelo ser que já não sabe mais
se é ser, se é estar ou se é morrer

O prato que não se come

O desejo de olhar e querer, muitas vezes se sobrepoem à sensação da conquista. A ânsia, a incerteza e a dúvida, temperam e cozinham no bafo toda a vontade de alcançar. A conquista, muitas vezes chega numa bandeja de prata, cercada de louros e tentações;
Ao olhá-la, ali, estendida, entregue, minha, sorrio e salivo. Ao levá-la a boca, porém, esta me vem fria, como um prato que deveria ter sido comido ha tempos ou,
quem sabe, ela não tenha sido feita para este fim.
Ao senti-la agora amarga, fria e sem graça, percebo que a fonte do meu desejo era o não, o ainda, o nunca.
Deixo o prato de lado... sinto o cheiro da mesa mais próxima, sabores e cores que dançam pelo canto do meu olhar e me chamam para olhá-la e basta. Certas coisas são feitas para serem desejadas e não para serem degustadas.