Livrei-me , de uma maneira ou outra, de tudo que estava me perturbando. Se não tudo, a parte que era possível no momento.
Agora, tento identificar o que sobrou de puro em mim e o que as externalidades modificaram.
Felizmente reencontrei minha paixão pela música, pela fotografia, arte como sentido da vida e, principalmente, encontrei minha curiosidade. Tive medo de olhar-me no espelho e ver algo velho e ranzinza, sem gosto pelo novo, pela descoberta. Mas ainda estava lá, sorrindo para mim, a minha curiosidade ao lado do meu encanto pelo novo e belo, esperando serem chamadas para fora do guarda-roupa.
Nessa nova fase, me bateu à porta uma velha amiga, que há tempos não me visitava, a Paixão. EU a havia mandado embora da última vez, já que ela insistia em me lembrar quem eu devia esquecer. Mas agora lá vem ela de novo, com o sorriso aberto e me mostrando diversas novidades e variadas formas de sorrir.
Me dei conta, ao encontrar esses velhos amigos, que não andara usando um par de brincos que nunca deveria ter tirado das orelhas. Os apelidei carinhosamente: individualidade e amor próprio. Apesar de serem amados e estarem sempre a vista, não estavam me vestindo tão freqüentemente. Que alegria! Agora com eles novamente rente a minha cabeça, fui sentar-me embaixo da árvore com quem tenho longas e prazerosas conversas. Como tudo, ela também tem um nome: Conhecimento. Estranho reparar que sempre quando me aproximo dela é justamente quando tomo um copo de uma bebida amarga, porém muito útil, a dor. Nos últimos tempos tinha evitado sentar-me perto da árvore, sentindo-me meio indisposta após alguns copos, sentava-me na poltrona da solidão e lá permanecia. Porém hoje, depois de tantas lembranças e móveis tirados do lugar, tomei coragem para sair novamente. Estou voltando a descobrir os cômodos da minha casa.
Premiados Junho 2021
Há 3 anos