A bomba da hipocrisia
Uma palavra mata mais que mil ações. Mas uma ação violenta assusta mais que palavras.
Não queria comentar sobre o assunto. Não queria ler sobre o assunto, mas é impossível ignorar certas atitudes, por mais medíocres e nojentas que sejam.
Nesse último domingo, 14 de junho, uma bomba explodiu no centro de São Paulo. Não foi assalto à banco, não foi seqüestro de burgueses. Foi a bomba da repressão que explodiu em praça pública durante o dia, foi a bomba do medo que explodiu no peito da comunidade gay. Foi a bomba que explodiu no meu peito de revolta e de decepção.
Vejo famílias temerosas com o número de homossexuais que se apresenta dia- a – dia no comércio, na empresa, na escola, na rua. Vejo olhares de repreensão, espanto, nojo. Os patriarcas conservadores orientam seus filhos sobre o que ser: seja heterosexual! Seja religioso! Seja rico! Todos temem que seus filhos tornem-se parte dessa massa devassa, impura, indigna, quase uma doença, alguns dizem.
O que eu não vejo são pessoas indignadas com o que seus filhos tão bem orientados cometem. Sinceramente, o que pensar sobre esses seres que atacaram pessoas meio a uma manifestação pública?
Será que devemos tomar as rédeas dacabeça dessas famílias e gritar: Seja íntegro! Seja respeitoso! Seja amoroso! SEJA HUMANO, SEU BOSTA?
Eu não vi ninguém jogar uma bomba no carro que escoltou Suzane Von Richthofen. Eu não vi ninguém jogar uma bomba no carro do casal Nardoni. Eu não vi foi algo que prestasse.
Lendo a página inicial do Yahoo, foi laçada uma nota dizendo que um dos garotos que estavam perto da bomba que explodiu nesse ultimo domingo, não resistiu. Uma nota! Agora sobre o fato de refrigerante fazer mal à saúde havia uma reportagem completa.
É dessa hipocrisia que me arde a garganta que tento aqui falar.
Não me importam os olhares nas ruas, não me importa a criação medíocre que dão às crianças sobre certo e errado, sobre religião, sobre consumo desenfreado. O que me importa realmente foi essa bomba da hipocrisia que explodiu em meu rosto. Eles tem medo de sair às ruas devido à assaltos, seqüestros, latrocínios e tratam esse crime cometido como um incidente indesejado. Essa bomba que explodiu é para mim a prova de que de nada adianta bolsa família, cota universitária, saúde para todos, escola para todos se o mínimo é a liberdade e não a temos. Liberdade de dizer e fazer. Ter o direito de se manter íntegro em sua busca. Em uma cidade onde um ser explode outro ser humano e nenhuma medida clara e justa é tomada, não há esperança de humanidade, não há esperança de evolução. É o sinal claro de que pouco a pouco esses seres miseráveis se afogaram na própria pobreza de espírito.
Só queria declarar aqui o meu repúdio e dizer que esse texto é só uma mostra da capacidade do ser humano de se indignar-se. Eu ainda sinto e ainda acredito que podemos mudar.
Brasil um país de todos... Todos hipócritas.