quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Anômica

Antes era descrente
"Maledicente"
Mal educada
Rebelde
Do contra
Avessa

Não aceitava o que me diziam
Dizia o que não aceitavam
Um idoso me ouvindo era risco de morte
A minha ou a dele

Invernos passados
Hormônios (quase regulados)
Fala mais mansa,
Menos confronto e mais ataque

Mais algumas velas assopradas
Não mais em cima do bolo da mãe, mas na sarjeta
Com os outros perdidos, as aberrações que chamo de amigos
E o discurso passou a borbulhar menos pra fora
Queimar mais por dentro
Até que não se soube mais quem era o ser e quem era o discurso

Não sei e duvido se pretendo saber
Mas até pra isso os condenados tem um nome agora
Anômica

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Como a mente trabalha muito pra lugar nenhum, no escuro, as letras iluminam o metro à frente:

À frente nada.
Nem uma estradinha,
Nem uma bifurcação,
Nem um precipício que se preze!

E para endoidecer mais quem não vê
(eu, ela, ele, o que quiser)
Quanto menos entende
Mais escreve
Menos fala
Mais confunde

E pra que?
Se não sei nem pra onde
Entender pra que, só em outra passagem!

Espelho na poça, na pia e nos olhos

Eu sou ele
Eu sou ela
Eu sou nós três
Eu estou isso

Nasci ela
Conheci ele
Vivi o não saber que se é
Fui tudo que alcancei ser
E, sendo tudo, descobri que sou nenhum


Sendo nenhum, nada importa
Tudo é livre
Tudo é certo
O nada tudo permite, tudo aceita
O tudo nada repele, nada reprime
O tudo e o nada coexistem na minha não existência de qualquer coisa

Posso ser espada
Faca de dois gumes
Canivete cego
Espátula de margarina
E, quando nada, uma concha
De feijão, de água, de ponche e do que quiserem beber
Do que eu quiser beber
E bebemos até a embriagues