sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Trevo, Frevo, Trepo

Na folia de rainhas
Éramos duas
Um quatro de pernas pro ar

A boa namorada sempre à cama retorna
Nós nem dela saíamos
Na privacidade da auência de mundo
Conjugávamos todos os verbos

Eu beijo, ela geme, nós gozamos, eles escutam, vocês aplaudem
É carnaval?
Não senhores, é ouubro
E quem liga?
Nós que não
Em nosso quarto todo dia é fevereiro!

Natália Button

sexta-feira, 9 de março de 2012

A medida e a constatação

O termômetro da relação humana, que antes para mim sempre foi a intimidade, o desejo, a relação dos fluidos e gemidos entre mim e outrem, agora parece não o ser mais. Este, felizmente, se apresenta agora como um ponto crescente no gráfico da evolução da relação, o que me despiu de margens e parâmetros. Há, porém, um novo método empírico e intimamente pulsante que surge, não da necessidade, mas da espontaneidade dos sentimentos: guio-me pela chuva de palavras, frases e versos que pulam dos meus dedos e sussurram aos meus ouvidos que conte, que revele à ela todo o deleite que me causa em cada nova visita.

Houve um tempo em que tais palavras vinham à mim não como chuva, mas como uma saraivada. Eram expurgantes as balas em forma de palavras que a vida usava para me fuzilar em frente ao pelotão. Como um ritual de limpeza da alma, me adaptei aos projéteis repentinos que tanto me ajudavam neste processo de exorcismo, com a consciência de que essa seria minha cruz; Haveria de carregar os pesares da vida e sangra-los em mim, para depois expurga-los em letras. Sendo um o resultado do outro, ser feliz tornava a felicidade um ato de renúncia as minhas próprias palavras, renuncia à única tarefa subjetiva que me foi permitida desenvolver. Contrariando minhas expectativas e constatações sobre a dor e a escrita, surge ela e dela os prazeres e deles a necessidade de exprimir em palavras a felicidade e a calmaria trazidas por ela.

Aqui, no pedaço de papel virtual, onde registro e assumo meus versos, venho constatar que há poesia em mim e não apenas em minha dor.

quarta-feira, 7 de março de 2012

Frase




















Frase Nataliana do dia

"Só busca incessantemente a honra e faz julgamento dela em outros seres, o ser que já a perdeu ao menos uma vez" Natália Carneiro

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Anômica

Antes era descrente
"Maledicente"
Mal educada
Rebelde
Do contra
Avessa

Não aceitava o que me diziam
Dizia o que não aceitavam
Um idoso me ouvindo era risco de morte
A minha ou a dele

Invernos passados
Hormônios (quase regulados)
Fala mais mansa,
Menos confronto e mais ataque

Mais algumas velas assopradas
Não mais em cima do bolo da mãe, mas na sarjeta
Com os outros perdidos, as aberrações que chamo de amigos
E o discurso passou a borbulhar menos pra fora
Queimar mais por dentro
Até que não se soube mais quem era o ser e quem era o discurso

Não sei e duvido se pretendo saber
Mas até pra isso os condenados tem um nome agora
Anômica

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Como a mente trabalha muito pra lugar nenhum, no escuro, as letras iluminam o metro à frente:

À frente nada.
Nem uma estradinha,
Nem uma bifurcação,
Nem um precipício que se preze!

E para endoidecer mais quem não vê
(eu, ela, ele, o que quiser)
Quanto menos entende
Mais escreve
Menos fala
Mais confunde

E pra que?
Se não sei nem pra onde
Entender pra que, só em outra passagem!

Espelho na poça, na pia e nos olhos

Eu sou ele
Eu sou ela
Eu sou nós três
Eu estou isso

Nasci ela
Conheci ele
Vivi o não saber que se é
Fui tudo que alcancei ser
E, sendo tudo, descobri que sou nenhum


Sendo nenhum, nada importa
Tudo é livre
Tudo é certo
O nada tudo permite, tudo aceita
O tudo nada repele, nada reprime
O tudo e o nada coexistem na minha não existência de qualquer coisa

Posso ser espada
Faca de dois gumes
Canivete cego
Espátula de margarina
E, quando nada, uma concha
De feijão, de água, de ponche e do que quiserem beber
Do que eu quiser beber
E bebemos até a embriagues

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Rua conceição, 157

Ruas pequenas, encravadas nos quarteirões tortos e envelhecidos. Algumas asfaltadas, outras empedradas, molhadas de chuva, empretejadas pela fumaça do bonde que passa.
Não, na verdade não é bonde, é ônibus, caminhão, carro, bicicleta, gente engravata correndo pela calçada, gente mulambenta rolando pelas esquinas. Amendoeiras, ypês e algumas outras árvores antigas de folhinhas pequenas atrapalham a passagem do progresso, essas poucas que restaram diante de tanto concreto e hoje se fazem parte dele, e ele, parte delas e nós, parte deles todos. Sou a fumaça que passa por entre meus dedos, sou a buzina que atravessa as vitrines e um pouquinho do lixo que se acumula na vala. Cada qual em seu lugar, sambando, correndo, no ritmo da cidade que é minha de coração.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Cores

No cruzamento, muitos carros
Todos atravessaram ao mesmo tempo
Um contra o outro como insetos desembestados
Não colidiram, como matéria que se impede de passar
Se fundiram, como feixes de luz que se misturam
Ao sair, um pouco de cor de um, de outro
E nenhum era mais o mesmo
E também não era o outro
Era o resultado de vidas que seguem

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Arma letal contra o tédio

Ainda me lembro de você, ainda sinto sua falta, mas agora é diferente. Sinto uma vontade tamanha de viver, de provar para mim mesma que eu sou capaz de ser feliz e de existir sem a sua companhia, sem o seu apoio. Volto a procurar nos cantos mais profundos tudo que há em mim, as frases empoeiradas por falta de uso, os pensamentos enferrujados e ate uma certa malicia que eu havia me esquecido que tinha. Por um tempo eu procurei ser boa, ser motivo de orgulho, de admiração, de respeito pra você, so o que eu havia me esquecido era que eu não precisava me esforçar pra isso.
Algumas vezes conversamos sobre valores, sobre princípios. Voce afirmou prontamente os seus, como quem fala de algo meticulosamente estudado dentro de si mesma, como alguém que se agarra aquilo como motivo de sua existência. Eu, por outro lado, não sabia nem se as palavras principio e valor faziam parte do meu vocábulo. Eu não sou muito de afirmar com verdade regras de conduta para mim mesma, eu sei criticar, isso eu sei, eu sei atacar normas de conduta, ir contra normas, na verdade passo tanto tempo negando qualquer tipo de regra moral ou social que so quando você veio me falar sobre princípios e valores, pude perceber que eu não sabia o que havia em mim. “Honra, verdade, respeito” foram alguns dos valores citados por você naquela conversa; Imediatamente eu voltei para dentro de mim e duvidei, não que você realmente tivesse tais princípios, mas se essas palavras realmnete significavam algo para mim, se eu conseguia enxerga alguma plenitude de significados naquelas palavras. Palavras tão vagas, tão nulas, conjunto de símbolos natimortos que provocam no seu interlocutor uma gama de sentimentos, lembranças e pensamentos que nem podemos imaginar; tão vazia e tão forte. Verdade, sempre que alguém me diz que procura “a verdade” meu coração já dá um pulo de medo! Oxe! Eu nem sei o que eh a verdade, nem sei se ela existe, tudo é sempre tão relativo, tudo se pode interpretar de tantas maneiras a ponto de se tornarem nulas ou devastadoras para o observador, é um conceito tão profundo e tão desconhecido para mim e alguns buscam “a verdade”, da vida, da existência humana, do cosmos, do mundo, da energia cósmica universal e o escambau, enquanto eu...nem sei se existe algo que pode ser chamado de verdadeiro o.O . O que fazer? Calar. Calar e pensar ate que meus miolos cozinhem, que eu não consiga mais lidar comigo mesma, que o turbilhão de duvidas se torne tão insuportável quanto minha própria existência.
Não tem coisa que eu mais odeio do que gente que me pergunta “qual o sentido da sua vida?”. Pro diabo com essa pergunta maldita! Eu não sei RS, nunca soube. Na verdade eu acho que só ainda não morri por ainda ter curiosidade, por tentar descobrir o que estou fazendo viva. Não vejo o menor sentido em nada, e não pense que isso vem carregado de um tom melodramático beirando o suicídio limboso de uma alma perdida pelos séculos, não. Não vejo sentido por que não vejo motivo, não vejo, não vejo, não vejo um por que para as coisas existirem e fluírem. Nem orgânico, nem metal, nem energético, nem espiritual, nada. À parte disso, mesmo eu não vendo um por que, um pra que, sou obrigada a viver, afinal já vivi tempo suficiente para criar laços amorosos com familiares, amigos, animais e com meu próprio corpo. Tenho a impressão de que criamos motivos para nos admirarmos, para nos amarmos, construímos papéis a respeito do que gostaríamos de ser baseado num modelo que nos convenceram de que gostaríamos de alcançar e vivemos. Juntando dinheiro, juntando pessoas, juntando objetos, elogios, glorias, fracassos, conhecimento sobre coisas que nos disseram ser verdade (ate que daqui um século apareça outro cientista louco dizendo que nada daquilo era verdade, que agora sim eles descobriram “a verdadeira verdade”e assim se segue ate o fim da humanidade), tudo isso para que? Esses objetivos humanos infindáveis e inalcançáveis, pra que? Pra que a gente não desista de viver neh, só pode. É claro que nós tivemos uma ajudinha inicial, não posso negar que a natureza tem seu papel imprescindível na luta contra o tédio da existência humana; ela nos deu necessidades fisiológicas! Ah, abençoadas sejam as necessidades fisiológicas, sem você todos estaríamos nadando em nossa própria merda rs. As N.F dão o pontapé inicial para todo esse bordel. Inicialmente temos que nos alimentar. Poderiamos nos alimentar de terra ou de qualquer outra coisa que estivesse ao alcanço das mãos, seria bem mais fácil, mas não...queremos vegetais, legumes, frutas, carnes e tem que ser os específicos! E não bastam estar lá, tem de estar cozidos, moídos, temperados, picados, lavados, sem pragas, ate que finalmente uma coisa que era so para saciar nosso estomago e ser transformada em energia para...nao importa, para viver, sei La, se torna um comercio, uma industria,um motivo de devastação ambiental e gastrite. Tenho que admitir que é um dom, tornar algo que era para ser corriqueiro em “estilo de vida”(outro conceito que não existiria). Aí eu penso: a nossa existência não deve ser baseada apenas em armas letais contra o tédio, não....alem das necessidades fisiologicas, outra coisinha nos foi dada, essa as vezes bem mais eficaz contra o tédio do que as N.F’s : o pensamento , a necessidade de companhia e a dúvida (sim, essa malinha que não me deixa dormir e faz com que eu acorde amanha e continue vivendo, sorte ou azar, vou viver ate morrer e as duvidas continuarão La). Algumas espécies são biologicamente desenvolvidas para viverem solitárias (não foi nosso caso, que pena, seria tão mais rápido  ) ao contrario de nós, que em algum momento insano decidimos reconhecer nossa prole como extensão de nossa jornada e nos tornamos assim imortais! Eeeee, pronto, agora ta completo, desenvolvemos tecnologias para viver mais ( e ainda me pergunto: pra que? Estou sabendo que querer viver é instintivo, mas prolongar já é exagero neh) e criamos um sistema em que transformamos a prole em tudo aquilo que gostaríamos de ser, pensando assim que quando morrermos nosso legado estará circulando pela Terra.
Para alguém que não vê sentindo em nascer nem em viver, imagine o que pode significar prolongar a própria vida e desejar a eternidade! 40 anos de vida tava ótimo, mas não, não dava tempo de se questionar o suficiente, de juntar bens suficiente nem de ver a prole da prole, então vimos lutando e nos esforçando para prolongar a nossa vida e...acabar com a dos outros. Sim, fazemos isso também para matar o tédio, pode ser nosso irmão mais novo quando lutamos pelo computador, pode ser o cara do banco do lado quando você liga aquele funk no celular sem fone de ouvido ou quando você joga uma bombinha, de nada, de leve, no país vizinho logo depois que ele disse algo que você não gostou sobre o seu país, sua mãe ou sobre a sua roupa. O importante é incomodar alguém, amar alguém, odiar alguém. Percebe que as armas letais contra o tédio vão alem das bordas do nosso próprios corpo, tudo porque tem aquele ponto que eu falei La atrás, algo sobre ter que viver com mais seres da mesma espécie, outra contribuição gratuita da natureza pra você, sem impostos.
É por isso que eu escrevo, afinal como todos os outros bípedes, homo sapiens sapiens, humanos pensantes, preciso vencer o tédio. Eu também criei varias maneiras de achar legal viver, adiquiri alguns vícios (só pra daqui alguns anos me incomodar com eles e ter “mais uma luta para vencer”) , alguns amigos que se comportam de maneira que eu acho que me identifico (ou gostaria de me identificar) e achei alguém pra tentar compartilhar o tédio. Náo deu certo, esse alguém resolveu compartilhar o próprio tédio com ele mesmo e se afogar em suas próprias dúvidas; O que foi bom também, afinal agora eu tenho que me reorganizar de maneira a compartilhar meu tédio comigo mesma e com outras pessoas, porem sem intimidade sexual rs, o que da um trabalho dos infernos porque tanto meu corpo quanto minha mente já estavam adaptados a algumas rotinas. Agora eu tento achar maneiras de vencer o tédio que me dêem prazer ou que pelo menos me distraiam enquanto aguardo o fim do ciclo vicioso chamado vida.