terça-feira, 16 de abril de 2013

Fagia

Tenho fome

Como, bebo, ainda tenho fome
Leio, assisto, ouço
A fome aumenta

Tenho fome?
Tenho sede? (séde?)
Encontro caminhando 
cortinas e palcos que nunca sonhei
Assisto pessoas
Como suas palavras (mesmo que às vezes indigestas)
Ouço seus soluços, seus reclames
Faço carinho coms olhos e as espeto com a língua
São meus mais sinceros e amáveis gestos

Não encontro saciedade nem nas coisas, nem nas pessoas

Elas, porém me causam mais desejo

Sim, cada dia mais fome.

Natália Carneiro

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Trevo, Frevo, Trepo

Na folia de rainhas
Éramos duas
Um quatro de pernas pro ar

A boa namorada sempre à cama retorna
Nós nem dela saíamos
Na privacidade da auência de mundo
Conjugávamos todos os verbos

Eu beijo, ela geme, nós gozamos, eles escutam, vocês aplaudem
É carnaval?
Não senhores, é ouubro
E quem liga?
Nós que não
Em nosso quarto todo dia é fevereiro!

Natália Button

sexta-feira, 9 de março de 2012

A medida e a constatação

O termômetro da relação humana, que antes para mim sempre foi a intimidade, o desejo, a relação dos fluidos e gemidos entre mim e outrem, agora parece não o ser mais. Este, felizmente, se apresenta agora como um ponto crescente no gráfico da evolução da relação, o que me despiu de margens e parâmetros. Há, porém, um novo método empírico e intimamente pulsante que surge, não da necessidade, mas da espontaneidade dos sentimentos: guio-me pela chuva de palavras, frases e versos que pulam dos meus dedos e sussurram aos meus ouvidos que conte, que revele à ela todo o deleite que me causa em cada nova visita.

Houve um tempo em que tais palavras vinham à mim não como chuva, mas como uma saraivada. Eram expurgantes as balas em forma de palavras que a vida usava para me fuzilar em frente ao pelotão. Como um ritual de limpeza da alma, me adaptei aos projéteis repentinos que tanto me ajudavam neste processo de exorcismo, com a consciência de que essa seria minha cruz; Haveria de carregar os pesares da vida e sangra-los em mim, para depois expurga-los em letras. Sendo um o resultado do outro, ser feliz tornava a felicidade um ato de renúncia as minhas próprias palavras, renuncia à única tarefa subjetiva que me foi permitida desenvolver. Contrariando minhas expectativas e constatações sobre a dor e a escrita, surge ela e dela os prazeres e deles a necessidade de exprimir em palavras a felicidade e a calmaria trazidas por ela.

Aqui, no pedaço de papel virtual, onde registro e assumo meus versos, venho constatar que há poesia em mim e não apenas em minha dor.

quarta-feira, 7 de março de 2012

Frase




















Frase Nataliana do dia

"Só busca incessantemente a honra e faz julgamento dela em outros seres, o ser que já a perdeu ao menos uma vez" Natália Carneiro

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Anômica

Antes era descrente
"Maledicente"
Mal educada
Rebelde
Do contra
Avessa

Não aceitava o que me diziam
Dizia o que não aceitavam
Um idoso me ouvindo era risco de morte
A minha ou a dele

Invernos passados
Hormônios (quase regulados)
Fala mais mansa,
Menos confronto e mais ataque

Mais algumas velas assopradas
Não mais em cima do bolo da mãe, mas na sarjeta
Com os outros perdidos, as aberrações que chamo de amigos
E o discurso passou a borbulhar menos pra fora
Queimar mais por dentro
Até que não se soube mais quem era o ser e quem era o discurso

Não sei e duvido se pretendo saber
Mas até pra isso os condenados tem um nome agora
Anômica

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Como a mente trabalha muito pra lugar nenhum, no escuro, as letras iluminam o metro à frente:

À frente nada.
Nem uma estradinha,
Nem uma bifurcação,
Nem um precipício que se preze!

E para endoidecer mais quem não vê
(eu, ela, ele, o que quiser)
Quanto menos entende
Mais escreve
Menos fala
Mais confunde

E pra que?
Se não sei nem pra onde
Entender pra que, só em outra passagem!

Espelho na poça, na pia e nos olhos

Eu sou ele
Eu sou ela
Eu sou nós três
Eu estou isso

Nasci ela
Conheci ele
Vivi o não saber que se é
Fui tudo que alcancei ser
E, sendo tudo, descobri que sou nenhum


Sendo nenhum, nada importa
Tudo é livre
Tudo é certo
O nada tudo permite, tudo aceita
O tudo nada repele, nada reprime
O tudo e o nada coexistem na minha não existência de qualquer coisa

Posso ser espada
Faca de dois gumes
Canivete cego
Espátula de margarina
E, quando nada, uma concha
De feijão, de água, de ponche e do que quiserem beber
Do que eu quiser beber
E bebemos até a embriagues